Historiador - Graduado pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB)
Um dos elementos mais importantes, que agrega informações, conhecimento e enriquece qualquer viagem, é a história do lugar visitado. Os monumentos históricos são portais multidimensionais que atravessaram o tempo, permitindo com um mínimo de observação e leitura, o entendimento sobre os principais acontecimentos que contribuíram para a formação de determinada localidade.
Ler com antecedência sobre a história do local a ser visitado em sua próxima viagem pode ser muito útil, primeiro para que saiba sobre a existência dos principais monumentos a visitar, segundo para entendê-los, discernimento que lhe oportunizará novos sentidos e muito mais sabor a esse momento tão especial da sua vida.
Por meio desse artigo você aprenderá um pouco sobre a história do Morro de São Paulo, uma vila famosa da Ilha de Tinharé na Bahia procurada por cidadãos de todo o mundo, pela badalação, conforto, serviços e lindas praias.
Mas o Morro tem mais a oferecer, pois foi uma das primeiras vilas do Brasil Colonial e sua importante e estratégica posição geográfica lhe conferiu momentos marcantes e de destaque ao longo da história do Brasil.
Quer saber um pouquinho sobre alguns dos principais momentos históricos do Morro?
Então continue aqui conosco, pois apresentaremos neste artigo dados relevantes sobre a história desse paraíso baiano. Aproveite!
A divisão das Capitanias Hereditárias e o séc. XVI
O Morro de São Paulo está localizado na Ilha de Tinharé, que em tupi original se chamava Ty-nhã-réa, aquela que se adianta na água, que avança sobre o mar, referência dos tupinambás ao posicionamento geográfico da ilha em relação ao continente.
Ao longo dos primeiros trinta anos após a chegada de Cabral na Terra Brazilis, muitas expedições foram enviadas pela coroa portuguesa, com o objetivo primeiro de explorar e descobrir ouro e pedras preciosas. Não encontrando as riquezas minerais tão sonhadas, as expedições portuguesas passaram a patrulhar e defender as “suas” terras adquiridas no Tratado de Tordesilhas, pois havia a presença constante de diversos povos europeus em busca do Pau Brasil, principalmente franceses.
Grandes navegadores portugueses como Gaspar de Lemos, Gonçalo Coelho, Americo Vespucci, Cristóvão Jacques e os irmãos Martin Afonso e Pero Lopes e Souza passaram pelo Morro de São Paulo nesse período, alguns deixando escritos importantes, informando a presença e imponência da Ilha de Tinharé na região.
Mas foi Francisco Romero quem aportou pela primeira vez na ilha entre 1536 e 1537, nas imediações de onde hoje está situado o Terminal Marítimo do Morro de São Paulo. Ele foi a mando de Jorge Figueiredo Correa, o então donatário das 50 léguas de terras doadas pela Coroa, e que viria a se chamar, posteriormente, Capitania Hereditária São Jorge dos Ilhéus.
Sua função era fundar povoações na Capitania e dar início à colônia nessas bandas, o que fez inicialmente batizando o morro da Ilha de Tinharé com o nome de São Paulo. Essa incipiente vila chegou a ter uma população de trinta cristãos, produzindo algodão ao longo dos primeiros dez anos de existência e sendo a sede administrativa da Capitania. Até o momento em que Francisco Romero descobriu, mais ao sul, a foz de uma formidável bacia hidrográfica, batizando-a com o nome de Ilhéus em função das ilhas existentes na região e transferindo a sede da Capitania para lá.
Os jesuítas vieram com Thomé de Souza em 1549 para a fundação da Cidade da Bahia, e foram responsáveis pela criação de missões indígenas que resultaram em povoamentos, vilas e cidades, como a vizinha Taperoá. Isso se deu com apoio do terceiro Governador Geral do Brasil, Mem de Sá, que antes de retornar a Portugal em 1572, doou a sua sesmaria das 12 léguas para os religiosos.
Os tupinambás viviam na ilha quando os portugueses lá chegaram, mas sabe-se que os temíveis aimorés, também chamados de botocudos pelos portugueses em função dos botoques que utilizavam na boca e orelhas, foram determinantes para o crescimento da vila do Morro de São Paulo.
Os grandes guerreiros aimorés, rivais da etnias tupis que viviam na costa baiana, invadiram e guerrearam com os colonos portugueses nas Capitanias de Porto Seguro e também em Ilhéus por aproximadamente três séculos, sendo preponderantes quanto a decadência dos empreendimentos coloniais nessas duas capitanias.
Os poucos portugueses que sobreviviam aos seus ataques fugiam aterrorizados para o Morro de São Paulo, Cairu e Boipeba, vilas situadas em ilhas e naturalmente protegidas dos aimorés em função dos mesmos não saberem nadar, tampouco navegar. Essa migração forçada dos colonos do sul ampliou a população do Morro de São Paulo e foi preponderante para o desenvolvimento da vila.
Produção de farinha e escravizados africanos
Em meados do século XVII, o Morro de São Paulo já abrigava fazendas e plantios de mandioca, utilizando mão de obra escrava africana na produção da farinha e se tornando um dos principais centros de distribuição desse gênero alimentício da Capitania.
A importância da produção de farinha do Morro de São Paulo e adjacências era tamanha que em 1673 o governador Afonso Furtado proibiu a exploração da cana de açúcar no baixo sul da Bahia, com objetivo de manter a intensa produção da farinha que sustentava e alimentava os braços fortes da produção açucareira no Recôncavo e também da capital do Brasil Colônia, a cidade do São Salvador.
Os monumentos históricos do Morro de São Paulo
A Capela e a Igreja de Nossa Senhora da Luz - séc. XVII e XIX
No alto do morro e próxima do farol está, possivelmente, a ruína mais antiga do Morro de São Paulo, e que passa despercebida pela maioria dos turistas que vão lá. Trata-se da primeira Capela de Nossa Senhora da Luz, construída a mando do capitão Lucas da Fonseca Saraiva entre 1610 e 1628.
Em 1628 o almirante holandês Pieter Pieterzoon Hiyn enviou dois navios para saquear a vila do Morro de São Paulo e a Igreja de Nossa Senhora da Luz, que lhe disseram ser adornada em ouro e possuir ricas pratarias. Ao se aproximarem, uma ilusão de ótica lhes fez ver um batalhão em defesa da ilha, o que prontamente influenciou no aborto da missão. Essa miragem vista pelos holandeses foi então atribuída como milagre de Nossa Senhora da Luz em defesa da vila.
A atual Igreja de Nossa Senhora da Luz foi construída na primeira metade do século XIX conforme explica o IPAC: “atestam isto a harmoniosa talha neoclássica, típica daquele período, e a decoração D. Maria I, usada na fachada”. Em seu frontispício é possível ler 1845, referência do ano de conclusão da obra. Ambas são monumentos importantes que você não deve deixar de conhecer.
Fortaleza do Tapirandu - séc. XVII a séc. XVIII
Sob o comando do general Jacob Willeckens e do almirante Pedro Petrid, aportou no Morro de São Paulo uma esquadra composta por 25 navios em 1624, utilizando a vila como importante ponto de apoio para a bem sucedida invasão e domínio de Salvador. Em 1625 a numerosa armada de Boudewijn Hendriczood se refugiou em Tinharé após os portugueses retomarem Salvador dos holandeses, rumando posteriormente para o norte.
A presença constante e hostil de piratas, corsários e principalmente holandeses, foi fundamental para que se construísse ali uma fortificação, cujo objetivo seria o de proteger a “Barra Falsa da Baía de Todos os Santos”. A essa altura, a baía abrigava um dos principais portos do mundo e o escoamento de grandes riquezas para Portugal, especialmente o açúcar, que já dominara a região do recôncavo se consolidando como principal produto da economia colonial.
A construção da Fortaleza do Tapirandu foi iniciada entre 1628 e 1630 e sua primeira etapa inaugurada em 1664, período em que o Morro de São Paulo passou a ter importante função militar, contando com cinco construções e muros que atingem aproximadamente 650 metros de extensão. Dispunha em seu ápice, de uma tropa com 183 homens e excelente artilharia, uma das maiores do Brasil na época.
O monumento mais famoso e marca registrada do Morro de São Paulo é, certamente, o Portaló. Trata-se de um imponente portal construído com imensas portas de madeira cujo objetivo era guardar a entrada da vila. Ele é parte do complexo da Fortaleza do Tapirandu e sua edificação está atrelada ao período de construção da mesma.
Um dos lugares mais incríveis do Morro, o forte, como a Fortaleza do Tapirandu é conhecida, é cercado por um mar cristalino, repleto de golfinhos e paisagens cinematográficas. Passar um final de tarde lá e assistir ao lindo pôr do sol do Morro de São Paulo é programa obrigatório para quem chega nesse paraíso baiano.
Fonte Grande - sec. XVIII
Em meados do séc. XVIII o Morro de São Paulo estava consolidado como importante base militar, uma fortificação imponente composta por artilharia e presídio, e necessitava de um sistema de abastecimento de água que atendesse aos militares e população.
Foi construída então uma fonte composta por três bicas, com arquitetura em estilo barroco, no mesmo local onde provavelmente existia outra fonte menor, descoberta por Simão Barreto no período de construção da capela de Nossa Senhora da Luz.
A Fonte Grande do Morro de São Paulo possui uma galeria de adução, uma cisterna redonda, uma rampa de ferro, escadas e um sistema de drenagem. A fonte é acessada por uma escada com piso de mármore cinza e branco. Seu frontispício é de arenito baiano e possui uma placa no centro onde está escrito:
"O Ilustre e Honorável André de Melo de Castro, Conde de Galveas Virei e Capitão Geral do Mar e Terra do Estado do Brasil mandou fazer esta fonte em 1746”.
Farol do Morro - séc. XIX
O Farol do Morro de São Paulo foi construído por um engenheiro chamado Carson, que chegou em Valença para construir a antiga Fábrica de Tecidos Todos os Santos na segunda metade do séc. XIX.
Dom Pedro II em visita à ilha em 1859 deixou anotações sobre o farol em seu diário, mas sua data provável de instalação é 1855.
O Morro de São Paulo na Segunda Guerra Mundial
As embarcações brasileiras Arará e Itagiba naufragaram nas imediações do Morro de São Paulo em função de torpedos lançados por nazistas. Muitos sobreviventes desembarcaram na Primeira Praia e foram socorridos pela população local.
Dizem os antigos que o medo de um bombardeio nazista ao Morro fez com que as luzes da vila fossem completamente apagadas por uma semana, incluindo o farol.
O Morro de São Paulo nos dias atuais
Você viu que a história do Morro de São Paulo é muito antiga, perpassando pelos antepassados tupinambás, pela chegada dos portugueses e escravizados africanos. Um fato interessante é lembrar que o Morro de São Paulo é ainda mais antigo que Salvador, que foi fundada em 1549, pelo menos 13 anos após a chegada de Francisco Romero em Tinharé.
Você sabe quando esse lugar incrível passou a ser um dos maiores destinos turísticos do Brasil? O século XX viu a chegada dos veranistas a partir da década de 30, oriundos de Salvador e outros pontos da Bahia. Mas somente nos anos 70 passaram a alugar suas casas de verão a hippies e mochileiros, os principais agentes de divulgação do destino para o mundo.
Daí em diante fica fácil compreender como ocorreu a expansão da indústria turística a partir dos anos 80, tendo o Morro de São Paulo desenvolvido uma rede de serviços ao turista, com hotéis diversos e restaurantes com gastronomia do mundo inteiro, além de passeios diversos pela região.
Bibliografia
CAMPOS, Silva. Crônica da Capitania de São Jorge dos Ilhéus. Rio de Janeiro: Conselho Federal de Cultura, 1981.
COELHO FILHO, Luiz Walter. A Capitania de São Jorge e a Década do Açúcar (1541 – 1550). Salvador: Vila Velha, 2000.
IPAC. Sistema de Informações do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia: bens culturais sob salvaguarda no município de Cairu. IPAC, 2023. Disponível em: <http://patrimonio.ipac.ba.gov.br/municipio/cairu/>. Acesso em: 02 de abril de 2023.
JABOATÃO, Fr. Antônio de Santa Maria. Novo Orbe Seráfico Brasílico ou Chronica dos Frades Menores da Província do Brasil. Rio de Janeiro: Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 1858.
MATTA, Alfredo E. R. Projeto de Extensão: TV WEB Remando em Preservação - Parte 1 - Morro de São Paulo. YouTube, 27 de junho de 2022. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ecXFtCIhytc&t=3362s
RISÉRIO, Antônio. Tinharé: História e Cultura no Litoral Sul da Bahia. Salvador: BYI Projetos Culturais Ltda, 2003.
SOUZA, Gabriel Soares. Tratado Descritivo do Brasil em 1587. São Paulo: Hedra, 2010.
A importância de planejar com antecedência
Além de conhecer a história do Morro de São Paulo, o turista deve ter em mente que é imprescindível fazer um planejamento de viagem a fim de aproveitar com eficiência sua estadia no Morro de São Paulo.
Afinal, é um local com tantas praias incríveis e passeios extraordinários que fica difícil aproveitar tudo isso sem uma boa organização. Como você percebeu ao longo deste artigo, a história do Morro de São Paulo é rica e repleta de detalhes que vão muito além das belezas naturais.
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Como chegar ao Morro de São Paulo
Indicamos três maneiras para chegar ao Morro. Certamente a mais econômica é através do transfer semi-terrestre, com transportes variando entre automóveis e lanchas.
Outro meio muito comum é viajar nos catamarãs que saem do Terminal Turístico Náutico da Bahia, localizado em frente ao Mercado Modelo em Salvador.
Por fim, a mais bonita e rápida é viajando por meio de táxi-aéreo a partir do Aeroporto Internacional de Salvador.
Conclusão
Os principais elementos históricos sobre o Morro de São Paulo foram trazidos aqui neste artigo, organizados cronologicamente e amparados por textos complementares a fim de ampliar seu conhecimento.
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Ok ! Eu li todo o artigo, porém até agora não entendi porque se deve esse nome .... morro de São Paulo. já que se trata de uma ilha e não de um morro como temos muitos aqui no Rio RJ.