Historiador - Graduado pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB)
Conheça alguns fatos históricos marcantes sobre o Morro de São Paulo e torne sua viagem muito mais interessante!
Listamos abaixo alguns momentos importantes dessa história que certamente te farão ver o Morro de São Paulo com outros olhos e admirá-lo ainda mais.
Fato Histórico 1: o Morro foi sede de uma Capitania Hereditária
Em 1534 o rei de Portugal D. João III doou grandes extensões de terra a homens ricos e poderosos que deveriam viabilizar a construção e o povoamento da colônia portuguesa no novo mundo. Eram as Capitanias Hereditárias com seus donatários.
A região demarcada atualmente como Estado da Bahia possuiu três dessas Capitanias, a da Baía de Todos os Santos, a de São Jorge dos Ilhéus e a de Porto Seguro, sendo o Morro de São Paulo a primeira sede da Capitania Hereditária de São Jorge dos Ilhéus, do donatário Jorge de Figueiredo Correa.
Segundo o cronista do séc. XVI Gabriel Soares de Souza em seu livro O Tratado Descritivo do Brasil em 1587, as terras desta Capitania começavam “da ponta da baía do Salvador da banda do sul”, passando pela Ilha de Tinharé e seguindo até a foz do rio Jequitinhonha, onde hoje está situada a cidade de Belmonte, totalizando 50 léguas de extensão.
Jorge de Figueiredo Correa nunca pisou em suas posses, enviando em seu lugar um capitão castelhano de nome Francisco Romero. Os documentos históricos não definem exatamente o ano em que Romero aportou na Ilha de Tinharé. Sabe-se apenas que foi entre 1536 e 1537 que o castelhano chegou numa prainha junto a um morro escalvado, que logo chamou de São Paulo. Quanto à Capitania, deu-lhe o nome de São Jorge em homenagem ao donatário Jorge de Figueiredo Correa.
Anos depois Francisco Romero transferiu a sede da Capitania para Ilhéus, ficando assim conhecida como Capitania Hereditária de São Jorge dos Ilhéus.
Fato Histórico 2: a visita do Imperador D. Pedro II ao Morro
Em 01 de outubro de 1859 o Imperador D. Pedro II e sua esposa, a Imperatriz Teresa Cristina, zarparam para uma viagem de quatro meses visitando as províncias ao norte da capital do Império. A jornada pelo litoral aconteceu num navio a vapor e passou pelo Espírito Santo, Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Paraíba, retornando em fevereiro de 1860.
Exímio linguista e poliglota, era fluente em dezessete idiomas e tinha por hábito escrever diários em suas viagens, documentos importantes que revelam muito sobre o contexto histórico do período nos lugares por onde passou.
No dia 05 de outubro de 1859, escreveu D. Pedro: “fundeamos por detrás do morro do Farol de S. Paulo”. Em seguida avistou a Fortaleza do Tapirandu e também uma embarcação de três mastros carregada de “piaçaba” que vinha de Valença para a Baía de Todos os Santos.
Desembarcou no Morro de São Paulo sob muito regozijo e cordialidade, além dos costumeiros foguetes da Bahia.
Sobre a caminhada de subida até a vila, assim ele descreveu: “subi por um caminho ruim até a Igreja, que é sofrível, para a localidade, com a invocação de N. S. da Luz, havendo irmandade desta Senhora, que também o é do Sacramento, acompanhando-me alguns irmãos de opa encarnada e tochas na mão”.
Visitou a Igreja de Nossa Senhora da Luz, fez orações e subiu caminhando até o farol, desfrutando da excelente vista que existe lá. Observou a presença de “trezentas e tantas famílias” vivendo na vila, a Fonte Grande, descrevendo-a como “uma fonte pública de três bicas”, observou a iluminação do farol acender às 18h e se recolheu ao sono.
Pelos escritos em seu diário, nada indica ter dormido em terra firme no Morro de São Paulo, muito menos em alguma casa ou sobrado da vila. Bem provável que tenha passado a noite em sua suíte no navio. No dia 06 de outubro de 1859 a excursão imperial navegou até Salvador.
Para os amantes da história brasileira, o Museu Imperial publicou o livro Diário do Imperador D. Pedro II (1840-1891), disponibilizando uma versão digital para download em seu site.
Fato Histórico 3: presença da Segunda Guerra no Morro
As embarcações brasileiras Arará e Itagiba foram torpedeadas pelos nazistas e naufragaram nas imediações do Morro de São Paulo. Muitos sobreviventes desembarcaram na Primeira Praia, sendo socorridos pela população local.
Um fato triste ainda hoje lembrado pelos mais antigos da vila, que fazem dessa memória coletiva um importante documento histórico sobre esse trágico incidente. Em entrevista que realizei no dia 04 de novembro de 2022 para a Expedição Remando em Preservação - 1200 km - Salvador > Rio de Janeiro, a matriarca Dona Cecé assim descreveu a cena que sua mãe lhe contava quando criança:
“O submarino veio até aqui fora da barra do Morro de São Paulo e detonou o navio, foi quando as pessoas foram resgatadas, muitos morreram e foi a vila de Nossa Senhora da Luz que acolheu esse povo muito fraco.
Veio uma escuna de Valença e levou para o hospital de lá. A comunidade ficou com muito medo, o farol foi desligado e o Morro ficou uma semana sem acender nenhuma luz à noite. Ficava todo mundo quieto dentro de casa, com medo dos nazistas detonarem o Morro de São Paulo”.
Fato Histórico 4: hippies e mochileiros no Morro de São Paulo
O Morro de São Paulo virou o séc. XX com uma diminuição significativa da sua população em função do contínuo enfraquecimento econômico, chegando aos anos 70 como paraíso desconhecido.
Com o surgimento dos navios a vapor, estradas, eletricidade e indústrias, da eletricidade e da indústria, o Morro deixou de ser importante fornecedor de Farinha e outros gêneros alimentícios para Salvador, e sua base militar perdeu importância, o que levou a Fortaleza do Tapirandu a ruínas.
O que restou após quatro séculos desde a chegada dos portugueses foi uma pequena vila de pescadores, povo miscigenado e descendente dos tupinambás, dos escravos africanos e dos colonizadores portugueses.
Esse era o cenário perfeito para os hippies e mochileiros, que buscavam uma vida ao ar livre, natural e próxima da cultura caiçara. Através desses novos visitantes o Morro de São paulo foi, pouco a pouco, se tornando conhecido, explodindo para o turismo a partir dos anos 80.
Bibliografia
BEDIAGA, Begonha (Org.). “Diário do Imperador D. Pedro II (1840-1891)”. Petrópolis: Museu Imperial, 1999.
CAMPOS, Silva. Crônica da Capitania de São Jorge dos Ilhéus. Rio de Janeiro: Conselho Federal de Cultura, 1981.
COELHO FILHO, Luiz Walter. A Capitania de São Jorge e a Década do Açúcar (1541 – 1550). Salvador: Vila Velha, 2000.
MATTA, Alfredo E. R. Projeto de Extensão: TV WEB Remando em Preservação - Parte 1 - Morro de São Paulo. YouTube, 27 de junho de 2022. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ecXFtCIhytc&t=3362s
RISÉRIO, Antônio. Tinharé: História e Cultura no Litoral Sul da Bahia. Salvador: BYI Projetos Culturais Ltda, 2003.
SOUZA, Gabriel Soares. Tratado Descritivo do Brasil em 1587. São Paulo: Hedra, 2010.
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